Sandra experimentava uma mistura de constrangimento e um certo ressentimento consigo mesma. Havia feito uma promessa muitos anos atrás de que não repetiria tal atitude. Agora, percebia que talvez tivesse sido apenas uma tentativa de se enganar. Após ter sido ferida e injustiçada, a decisão de se afastar da igreja parecia ser definitiva. No entanto, os recentes eventos em sua vida contradiziam essa convicção.

A batalha pela preservação de seu casamento, a rebelião dos filhos e a tristeza persistente, apesar do sucesso profissional alcançado, revelaram um vazio interior que as conquistas materiais não conseguiram preencher. A ascensão ao topo não trouxera a plenitude desejada.

O ponto de virada ocorreu quando Sandra recebeu um breve vídeo de um conhecido pregador. Em apenas três minutos, ele articulou com clareza o cerne de sua experiência. A busca incessante por sucesso e riqueza, afirmava ele com autoridade, resultava em um coração vazio. As palavras do pregador ressoaram profundamente em Sandra, fazendo-a recordar dos dias em que frequentava a igreja, época em que se sentia verdadeiramente satisfeita. Nesse momento, ecoou em sua mente uma antiga canção:

“Satisfação é ter a Cristo
Não há melhor prazer já visto
Sou de Jesus e agora eu sinto


Satisfação sem fim

Satisfação é nova vida
Eu com Jesus em alegria
Sempre cantando a melodia
Satisfação sem fim”

No vídeo, o pregador afirmou: A Igreja, por vezes, pode falhar significativamente com seus próprios filhos. No entanto, mesmo diante dessas falhas, não identifico outra instituição que desempenhe o papel vital que ela exerce. Perdoe seus irmãos que falharam com você e volte à Igreja, reconhecendo o valor que ela desempenha em sua vida”.

Infelizmente, a história de Sandra é comum. Muitas pessoas foram machucadas pela igreja. Quem teve uma experiência desfavorável, caracterizada por sentimentos de julgamento, hipocrisia ou decepção, dificilmente retorna ao convívio dos irmãos. Essas experiências adversas podem deixar marcas profundas, gerando uma relutância compreensível em se envolver novamente com a igreja.

Em Hebreus 10.25, a Bíblia enfatiza a importância da comunhão e da congregação entre os crentes. A advertência da Escritura é clara, os leitores não devem abandonar o hábito de se reunir, como era a prática de alguns na época. A exortação destaca a relevância do apoio mútuo, da adoração coletiva e do fortalecimento espiritual que ocorre quando os crentes compartilham suas jornadas de fé. A Palavra de Deus ensina que, ao reunir-se, os crentes têm a oportunidade de encorajar uns aos outros, fortalecer o sentido de pertencimento à comunidade de fé e nutrir a perseverança na caminhada Cristã.

Além disso, o versículo sugere que o abandono das reuniões pode levar à perda de uma fonte vital de edificação espiritual. A comunidade Cristã oferece suporte, correção e inspiração, criando um ambiente propício para o crescimento espiritual individual e coletivo. Dessa forma, a Bíblia destaca a importância de não apenas manter a fé individual, mas também de participar ativamente de uma comunidade de crentes, reconhecendo que, juntos, eles podem enfrentar desafios, celebrar triunfos e crescer em sua jornada espiritual com maior robustez e perseverança.

Na árdua tarefa de restaurar a confiança e instigar o retorno à participação ativa, deparamo-nos com um processo delicado, que requer, antes de tudo, uma profunda cura emocional. Assim como um hábil médico trata uma ferida com cuidado, a igreja deve empregar uma abordagem compassiva, guiada pelo amor que transcende as cicatrizes do passado.

Ao adentrar nesse ministério de cura, a igreja deve mergulhar nas águas do diálogo aberto, proporcionando um espaço seguro para a expressão das dores e inquietações. A voz da congregação ferida precisa ecoar nos corredores da compaixão, encontrando eco nas palavras de amor e encorajamento. Neste contexto, a igreja se torna um hospital espiritual, onde as almas desgastadas encontram alívio para suas aflições.

A sensibilidade é a chave mestra para desbloquear o caminho da reconciliação. Conscientes das experiências passadas desses corações feridos, somos chamados a agir com ternura e empatia. Cada história, marcada por desafios e lutas, merece ser ouvida com respeito e entendimento. Somente ao reconhecermos as cicatrizes emocionais que permeiam a jornada de cada indivíduo, podemos oferecer um bálsamo eficaz que cure as feridas profundas.

No entanto, a cura não se completa apenas com palavras suaves e compreensão, mas exige uma profunda imersão na prática dos princípios bíblicos. A verdadeira restauração não é apenas uma questão de palavras, mas de ações alinhadas com as verdades eternas. Assim como um solo fértil é preparado para receber a semente, a igreja deve cultivar um ambiente de aceitação, onde o amor divino floresça e as vidas sejam transformadas.

Os passos cruciais para superar as barreiras emocionais não são apenas um exercício teórico, mas uma jornada prática em direção à autenticidade espiritual. A autenticidade não é apenas propaganda, mas uma expressão viva dos princípios bíblicos. Ao lançarmos as sementes do amor, compreensão e aceitação, estamos construindo alicerces sólidos para uma jornada espiritual mais positiva.

Que esta igreja, qual mestra sob a orientação do Divino Pastor, não apenas proclame a cura, mas a viva e respire em suas ações diárias. Que, ao enfrentarmos as tempestades da desconfiança e da inatividade espiritual, possamos erguer um farol de esperança, iluminando o caminho para os corações perdidos, proporcionando-lhes uma oportunidade de cura, restauração e uma jornada renovada na fé.


Foto de Luis Quintero no Pexels

Isaías Lobão is a Presbyterian Pastor in Palmas-TO/ Brazil and a Professor at the Federal Institute of Tocantins. He is doing his Doctorate in History at the University of Valencia, Spain. He has graduated from Theology School at the Evangelical Christian College of Plateau and has a Master's degree in Theology from EST - Superior School of Theology. He holds a Bachelor`s degree in History from the University of Brasília, and also a Bachelor`s degree in Philosophy at the Faculdade Única de Ipatinga. Married to Talita, he is the father of Ana Clara and Daniel. It's Presbyterian. He likes salt pamonha and listening to '70s music.