Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras?” 

15.9.2 4

Certa vez ouvi que o medo é a aranha no seu quarto, e ansiedade é a aranha que você sabe que está no seu quarto, mas não sabe onde ela se escondeu. O máximo que se pode fazer nesse caso é arrastar os móveis na esperança de que ela apareça e seja possível tentar matá-la. Essa é uma ilustração bastante simples, porém válida, pois demonstra que não há muito o que fazer para resolver um problema enquanto não se sabe onde ele está de fato, e o nervosismo nessa hora não vai dar um fim à situação. Ou seja, a ansiedade mais atrapalha do que ajuda.

Jesus nos adverte que não devemos andar ansiosos pela nossa vida, alertando-nos que, se nada podemos fazer quanto às coisas mínimas, de nada adianta andar ansioso pelas outras. Essas palavras de Cristo são realmente humilhantes, no sentido de nos fazer mais humildes. Grande parte das ansiedades que enfrentamos está no fato de pensarmos que estamos no controle das coisas. O fato é que não estamos. Nem mesmo as mínimas coisas nós podemos dominar. As outras, maiores, estão, assim, muito mais longe de serem direcionadas por nós.

O consolo é que esse ensino de Cristo quebra a ilusão de que podemos controlar cada detalhe de nossas vidas. Isso é, deveras, libertador. Entender que não podemos garantir o resultado de nossos desejos ou empreendimentos tira-nos um peso enorme das costas. Todos nós já nos sentimos impotentes diante de uma ou outra circunstância, quando sussurramos para nós mesmos: “não há mais nada que eu possa fazer”. E é nesse momento que percebemos o que já deveríamos ter claro desde o início, que não está em nossas mãos o destino das coisas, nem mesmo das pequenas coisas.

Ao dizer, “qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida”, Jesus não nos está eximindo de nossas responsabilidades, mas está nos mostrando que não é a ansiedade que resolve os problemas, e sim o nosso agir juntamente com o cuidado de Deus. Paulo confronta os Tessalonicenses (3.10) que andavam de maneira desordenada e sem trabalhar: “se alguém não quer trabalhar, também não coma”. De outra sorte, o apóstolo também nos lembra em I Coríntios 4.7: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?”. Logo, é o nosso trabalho confiante na provisão de Deus que nos provê tudo o que precisamos.

Jesus explica que indagar o que teremos para comer ou beber, entregando-nos às inquietações, é o modus operandi dos gentios. Nós, porém, podemos confiar em nosso Pai, que sabe que necessitamos delas. Por isso, devemos buscar, antes de tudo, o seu Reino, até mesmo antes de roupa e da comida, e estas coisas nos serão dadas. O Senhor não deixa faltar aos pássaros e às flores do campo. Não deixará também faltar para nós.

I Pedro 5.7 nos orienta que devemos lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós. Portanto, todo nosso cuidado deve estar sobre Deus. E se não conseguimos nos livrar da ansiedade, que só nos atrapalha, podemos levá-la também a Deus para tirá-la de dentro de nós.

O texto de Jesus em Lucas 12 nos deixa, assim, quatro lições importantes contra a ansiedade. Primeiro, que a preocupação com as coisas deste mundo é uma tolice, pois a vida em si tem muito mais valor; segundo, que temos mais importância que as aves e a flores do campo, de quem Deus já cuida com deleite; terceiro, que a ansiedade não ajuda a resolver problemas ou prover necessidades; e, por fim, que pertencemos a um Reino que tem todas essas coisas disponíveis.[i]

Leia os versículos 22 a 31 de Lucas 12. Certamente, os problemas e necessidades que lhe deixam ansiosos virão à sua mente. Enquanto lê, ore pedindo a Deus que renove sua confiança no cuidado dEle. Agradeça por todas as vezes que teve uma necessidade suprida, tal como um problema resolvido, uma dívida paga, uma enfermidade curada, e assim por diante. Pense em maneiras efetivas que o Reino de Deus pode ser prioridade em sua vida, desde a leitura da Palavra e oração diária, comunhão com a Igreja, serviço ao próximo, e assim, por diante.  Lembre-se que nada está sob seu controle, e que colocar as mínimas e as grandes coisas nas mãos de Deus é um exercício de fé muito mais efetivo que a ansiedade.

Lucas 12

²² A seguir, dirigiu-se Jesus a seus discípulos, dizendo: Por isso, eu vos advirto: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir.

²³ Porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes.

²⁴ Observai os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia, Deus os sustenta. Quanto mais valeis do que as aves!

²⁵ Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?

²⁶ Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras?

²⁷ Observai os lírios; eles não fiam, nem tecem. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.

²⁸ Ora, se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais tratando-se de vós, homens de pequena fé!

²⁹ Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações.

³⁰ Porque os gentios de todo o mundo é que procuram estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas.

³¹ Buscai, antes de tudo, o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas.


[i] Quatro argumentos poderosos contra a ansiedade. Nota da Bíblia de Genebra. Segunda Edição. ARA. Página 1343.

Foto de David Bartus no Pexels

Warton Hertz is the Partnership Coordinator of Barnabas Aid Brazil. He graduated from UniRitter Law School, also from Martin Bucer Theological Seminary, and a Master of Theology and Ethics from EST – Superior School of Theology.