Jesus disse: “Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo” (João 14.27). Podemos pensar que se trata de uma ordem que não podemos obedecer, porque se trata de sentimentos. Mas os sentimentos podem ser treinados e Jesus nos diz
como: confiando nEle (João 14.1-2).

Ao construirmos nossa fé, desenvolveremos também “coragem e fortaleza santas” – uma
força interior que nos permite suportar o perigo ou o sofrimento prolongado – e receberemos Sua paz (João 14.27).

A coragem santa, fluindo da fé, é o antídoto para o medo que pode nos levar ao fracasso do Senhor em tempos de perigo ou dificuldade. Isso nos permitirá dar glória a Ele e manter nossos próprios corações em paz.

A coragem é contagiante: outros Cristãos serão encorajados se nos virem enfrentando
dificuldades corajosamente. Como podemos desenvolver a fortaleza e a coragem santas?

1. Garantindo que estamos bem com Deus. 

O pecado não confessado e uma consciência culpada são obstáculos para perseverar em tempos de sofrimento. Devemos estar em paz com Deus a fim de colher as bênçãos que o sofrimento pode trazer (Romanos 5.1-5).

A confiança de que estamos no lugar e ministério onde Deus quer que estejamos também nos dá “força para permanecer”.

2. Afastando nossos corações dos prazeres e confortos do mundo. 

Muitos Cristãos vivem hoje
no luxo, em sociedades que valorizam o bem-estar físico. Não precisamos necessariamente desistir dessas coisas antes do tempo, mas precisamos preparar nossos corações para estarem prontos para fazê-lo sem que isso seja demasiadamente doloroso.

Devemos afastar nossos corações até mesmo do amor à liberdade, para que possamos enfrentar sem perturbações a possibilidade de encarceramento.

3. Entendendo nosso inimigo. 

Ele não é tão poderoso quanto nosso Deus. Ele quer nos prejudicar espiritualmente mais do que quer nos prejudicar fisicamente. Seu principal método é a tentação.

Especialmente no contexto da perseguição, ele pode nos apresentar novas tentações que não havíamos encontrado antes, ou tentações de fontes novas e inesperadas, tais como um cônjuge amado (Gênesis 3.6; Jó 2.9), amigos Cristãos (Atos 21.13) ou até mesmo um pregador ou pastor Cristão.

A perseguição também pode criar a tentação sutil do orgulho espiritual. Pelo que Deus nos revelou sobre as batalhas nas regiões celestiais, parece que a prioridade de Satanás é derrubar aqueles que estão mais próximos do Senhor.

Assim, qualquer um de nós sob ataque severo pode tirar conforto do pensamento de que talvez Satanás nos tenha visado porque somos um desafio tão grande para ele.

4. Desenvolvendo o hábito de lembrar da presença de Deus em todas as situações. 

Devemos orar o máximo que pudermos. Não é apenas uma saída para nossos sentimentos de angústia, mas também passar tempo com Jesus torna as pessoas
corajosas (Atos 4.13).

Podemos clamar a Deus por libertação, mas não podemos exigir que Ele responda
com milagres. Ele pode nos livrar ou não. Se Ele o fizer, Ele pode fazê-lo de forma sobrenatural ou natural.

Nosso Pai celestial sabe o que é melhor. Podemos também orar para que nossa fé não falhe e para que possamos responder a todas as nossas provações de uma forma semelhante à de Cristo: assim podemos ter certeza e orar de acordo com Sua vontade.

5. Cuidando para não usar a “prudência” como desculpa para a covardia. 

Distinguir a prudência da covardia pode ser muito difícil. Ela requer grande discernimento, maturidade Cristã, compreensão de nossos próprios corações e sensibilidade aos sussurros do Espírito Santo.

Igualmente devemos ter cuidado com a tentação de buscar a glória pessoal ou a emoção
da aventura “cortejando o perigo” desnecessariamente; não devemos colocar Deus à prova (Deuteronômio 6.16; Lucas 4.12). Que Deus guie cada um de nós.

6. Apreciando os efeitos internos do sofrimento, especialmente o sofrimento por Cristo. 

Alguns Cristãos encontraram seu tempo na prisão ou afastados por enfermidade para se
encherem de bênção e alegria, pois foram capazes de se concentrar mais no Senhor do que quando estavam livres e atarefados, ou saudáveis e ativos, mesmo que estivessem ocupados em Seu serviço.

Poderíamos emergir de um tempo de testes com nossos caráteres como o ouro (Jó 23.10).

7. Pensando no exemplo de outros crentes corajosos e perseverantes. 

Jesus encorajou seus discípulos a seguir os passos dos profetas de outrora quando mais tarde enfrentaram perseguição (Mateus 5.12. Ver também Tiago 5.10 e Hebreus 12.1).

8. Lembrando da recompensa celestial que nos é prometida, bem melhor do que tudo nesta vida (Hebreus 10.34) e muito mais gloriosa (2 Coríntios 4.16-17). Isso pode nos ajudar a aceitar e até a abraçar o sofrimento mais prontamente.

Sabemos que teremos que morrer um dia, então o quanto realmente importa se nossa vida terrena for um pouco encurtada?

Desejamos tanto olhar para Sua beleza (Salmo 27.4), mas podemos ver apenas um
reflexo obscuro (1 Coríntios 13.12). Quanto mais cedo passarmos desta vida para a próxima, mais cedo veremos a face de Deus (Apocalipse 22.4).

9. Amando e perdoando nossos inimigos e perseguidores. 

Aqueles que nos perseguem não devem ser odiados, mas amados e perdoados como nosso Senhor ordenou (Mateus 5.44) e fez (Lucas 23.34).

Ao fazer isto, muitos descobriram que sua dor e sofrimento são aliviados e que a cura, a paz e a integridade chegam.

Para nos prepararmos para a perseguição, devemos apurar nossas “habilidades” de amar e perdoar. Podemos praticá-las amando e perdoando quem for mais difícil de amar e de perdoar em nossas vidas no presente.

Então, estaremos bem preparados, com os hábitos certos de pensamento, se surgir o maior desafio de amar e perdoar os perseguidores cruéis.

10. Cultivando nosso amor pelo Senhor Jesus o que nos inspirará a suportar por Sua causa. Podemos ler os Evangelhos, meditar na cruz, cantar hinos e canções centrados em Cristo, ou simplesmente descansar em Sua presença.

PERMANECENDO FIRMES QUANDO DEUS PARECE ESTAR LONGE

Normalmente, os Cristãos experimentam a presença do Senhor de uma forma mais profunda quando estão sofrendo, principalmente se estão sofrendo por Ele. Isto é muito precioso e ajuda a sustentá-los.

Mas, às vezes, Ele parece – por um tempo – ficar indiferente e nos deixar sozinhos na luta, mesmo se O seguimos fielmente. Devemos estar prontos até mesmo
para esta forma de sofrimento.

ESTEJA ALERTA PARA OS ANJOS, MAS DEPENDA SOMENTE DE CRISTO

Quando Jesus orou no Jardim do Getsêmani, Ele estava em agonia mental, tomado de terror, quase morrendo de tristeza (Lucas 22.44; Marcos 14.33; Mateus 26.38, Amplified
Bible), mas Deus enviou um anjo do céu para fortalecê-lo (Lucas 22.43).

As Escrituras também registram outras vezes que Deus enviou anjos para ajudar Seu povo em seus momentos de maior aflição (Daniel 6.22-23; 1 Reis 19.1-7; Atos 5.19; 12.6-11).

As tradições da Igreja primitiva registram muitas outras intervenções sobrenaturais para ajudar os Cristãos fiéis, especialmente aqueles enfrentando torturas ou martírios dolorosos. Não podemos exigir que Deus envie anjos para nos ajudar, mas Ele pode.

Em última análise, devemos depender de Cristo – não de nós mesmos; não de nossas próprias forças ou habilidades; não de outros Cristãos ao nosso redor; não da preparação que possamos ter empreendido para enfrentar perseguição; não da esperança dos anjos; nem mesmo de quaisquer dons ou outras bênçãos que o Espírito Santo nos tenha dado. Devemos depender somente de Cristo.


Uma versão mais longa deste artigo aparece como capítulo 7 do novo livro do Dr. Patrick
Sookhdeo, O Mistério do Sofrimento.


Este artigo foi originalmente publicado na revista do Ajuda Barnabas.

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Dr Patrick Sookhdeo is the International Director of Barnabas Fund and the Executive Director of the Oxford Centre for Religion and Public Life.